XII Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Dados do Trabalho


Título

CERATITE ESTROMAL NECROSANTE POR HERPES SEGUIDA DE PERFURAÇAO CORNEANA: RELATO DE CASO

Resumo

O vírus herpes simples tipo 1 infecta a maioria da população mundial. Diversos acometimentos oculares são descritos associados ao patógeno, e, dentre elas, a ceratite estromal se destaca por seu prognóstico reservado, sendo uma frequente causa infecciosa de cegueira (2,3).
Paciente, 26 anos, admitida com queixa de dor em olho esquerdo (OE) com três dias de evolução, sem relato de trauma. Histórico de endotropia de OE, associada a baixa visual ipsilateral por infecção herpética prévia. Acuidade visual (AV) de 20/30 e movimento de mãos em olho direito e OE, respectivamente. À biomicroscopia, hiperemia conjuntival, infiltrado corneano estromal denso, central, com epitélio íntegro, além de hipoestesia corneana. Levantou-se hipótese diagnóstica de ceratite estromal por herpes, prescrito corticoide tópico associado a aciclovir via oral e programada reavaliação no dia seguinte. Paciente retorna após 48 horas, referindo absenteísmo ao retorno agendado por melhora de sintomas após início terapêutico. No entanto, refere prurido ocular matinal no dia presente, com fricção ativa seguida de dor e saída de secreção aquosa. Ao exame, mantida AV inicial e identificada perfuração corneana central à lesão de OE. Prosseguiu-se com recobrimento conjuntival imediato, manutenção de dose do antiviral e acompanhamento ambulatorial - em avaliação de reabilitação visual futura, a depender do potencial de AV.
Estima-se que 20 a 60% dos pacientes com herpes ocular recorrente tenham ceratite estromal (4). Deve-se sempre atentar ao diagnóstico diferencial de ceratites bacterianas, fúngicas e tóxicas. A ceratite estromal tem fisiopatologia controversa quanto ao cunho imunológico e/ou inflamatório (3). Clinicamente, pode ser dividida em necrosante ou autoimune, sendo a primeira derivada de processo infeccioso e a segunda de imunológico (1). Na forma necrosante, não há defeito epitelial, mas o estroma tem infiltrado denso, ulceração e necrose e pode evoluir com afinamento, descemetocele e perfuração (1,4). O tratamento baseia-se em antiviral e corticoide tópico adjuvante, sem benefício de adição de trifluridine, segundo estudo HEDS (5). Na presença de descemetocele ou perfuração, o uso de cola, lentes de contato e membrana ambiótica podem ser alternativas (2,4). Também há descrição de recobrimento conjuntival, uma vez que é capaz de tamponar a lesão, retomando a integridade anatômica ocular (6). Seguimento oftalmológico regular é essencial para manejo e condução de cicatriz estromal.

Referências Bibliográficas

1. Freitas D de, Alvarenga L, Lima ALH de. Ceratite Herpética. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia [Internet]. 2001 Feb 1 [cited 2022 Jun 10];64:81–6. Available from: https://www.scielo.br/j/abo/a/yBBVvhfHCBZ9JmsNPF8qh9y/?lang=pt#
2. Heiligenhaus A. Management of acute ulcerative and necrotising herpes simplex and zoster keratitis with amniotic membrane transplantation. British Journal of Ophthalmology [Internet]. 2003 Oct 1 [cited 2023 Jun 11];87(10):1215–9. Available from: https://bjo.bmj.com/content/bjophthalmol/87/10/1215.full.pdf
3. Rowe A, St Leger A, Jeon S, Dhaliwal DK, Knickelbein JE, Hendricks RL. Herpes Keratitis. Progress in retinal and eye research [Internet]. 2013 Jan 1 [cited 2020 Jun 4];32C:88–101. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3529813/
4. Al-Dujaili LJ, Clerkin PP, Clement C, McFerrin HE, Bhattacharjee PS, Varnell ED, et al. Ocular herpes simplex virus: how are latency, reactivation, recurrent disease and therapy interrelated? Future Microbiology [Internet]. 2011 Aug 1;6(8):877–907. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3403814/
5. Austin A, Lietman T, Rose-Nussbaumer J. Update on the Management of Infectious Keratitis. Ophthalmology [Internet]. 2017 Nov 1;124(11):1678–89. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5710829/
6. Austin A, Lietman T, Rose-Nussbaumer J. Update on the Management of Infectious Keratitis. Ophthalmology [Internet]. 2017 Nov 1;124(11):1678–89. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5710829/

Área

CÓRNEA (Trabalhos)

Instituições

HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO - Minas Gerais - Brasil

Autores

NATALIA D'ARC QUEIROZ PIMENTA, FILLIPE LAIGNIER RODRIGUES DE LACERDA, PEDRO SOARES CORREA, ISADORA MELGAÇO OLIVEIRA SANTOS, JOAQUIM PEREIRA PAES