Dados do Trabalho
Título
Manifestações oftalmológicas em indivíduos com dengue: um relato de caso
Resumo
A dengue é uma doença febril, endêmica no Brasil, causada por um dos 4 vírus da família flaviviridae e transmitida pelo mosquito Aedes1-2. As manifestações clínicas sistêmicas podem ser variadas e se assemelhar às da síndrome gripal. Já as manifestações oculares, embora pouco conhecidas, podem estar presentes na forma de retinocoroidite, maculopatia, hemorragias retinianas e uveíte anterior3.
Paciente, sexo feminino, 29 anos, sem comorbidades, encaminhada da UPA para avaliação por baixa acuidade visual (BAV) súbita bilateral, pior em olho esquerdo (OE) no sétimo dia de quadro de dengue. Seguia tratamento guiado pela classificação A. Ao exame oftalmológico, apresentava acuidade visual (AV) sem correção de 20/50 em olho direito (OD) e conta dedos (CD) 4 metros em OE, sem alterações no seguimento anterior. À fundoscopia, porém, observou-se hemorragias pré-retinianas em região macular de ambos os olhos associado a edema macular de OE. Reclassificada como grupo C, procedeu-se com a internação. Evoluía bem clinicamente, e, em reavaliação oftalmológica 96 horas após, houve piora da AV para 20/100 em OD e CD 2 metros em OE e alterações fundoscópicas estáveis. Realizada tomografia de coerência óptica (OCT) que constatou o edema macular intrarretiniano já observado à avaliação. Prescrito cetorolaco colírio três vezes ao dia e reavaliação em uma semana – nesta, notou-se melhora da AV: 20/40 e 20/200 em OD e OE, respectivamente, e manutenção de alterações fundoscópicas. Permaneceu o uso do colírio e indicou-se prednisona 60mg em esquema de desmame e novo retorno semanal, no qual notou-se AV de 20/30 em OD e 20/40 em OE, com melhora do edema macular ao OCT e hemorragias já em processo de reabsorção. Foi mantida a conduta com retorno mensal até resolução completa.
O acometimento ocular pode ser de origem inflamatória, oclusiva ou ambas. Em aproximadamente 70% dos casos tem acometimento bilateral e pode ser assimétrico3. As hemorragias retinianas são a manifestação mais comum e a maculopatia está presente em 10% dos pacientes internados. Assim, a identificação dessas alterações oculares, como no caso descrito, pode ser decisiva para a adequada classificação de risco e tratamento da doença. Embora não haja um protocolo terapêutico estabelecido, demonstrou-se melhora, nem que parcial da AV, em mais de 80% dos casos com uso de corticoesteróides oral ou venoso. Dessa forma reitera-se a importância do conhecimento das manifestações oculares para o melhor seguimento clínico.
Referências Bibliográficas
1) Simmons CP, Farrar JJ, Nguyen VV, Wills B. Dengue. N Engl J Med. 2012 Apr 12;366(15):1423-32.
2) Guzman MG, Harris E. Dengue. Lancet. 2015 Jan 31;385(9966):453-65.
3) Tabbara K. Dengue retinochoroiditis. Ann Saudi Med. 2012 Sep-Oct;32(5):530-3.
4) Lim WK, Mathur R, Koh A, Yeoh R, Chee SP. Ocular manifestations of dengue fever. Ophthalmology. 2004 Nov;111(11):2057-64.
5) Bacsal KE, Chee SP, Cheng CL, Flores JV. Dengue-associated maculopathy. Arch Ophthalmol. 2007 Apr;125(4):501-10.
Área
RETINA (Trabalhos)
Instituições
HC-UFTM (Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro) - Minas Gerais - Brasil
Autores
FILLIPE LAIGNIER RODRIGUES DE LACERDA, NATÁLIA DARC QUEIROZ PIMENTA, GABRIELA XAVIER REZENDE, FREDERICO DA SILVA BITENCOURT, DANYELLE DIAS CARDOSO