Dados do Trabalho

Título

CERATITE FUNGICA APOS FERROADA DE MARIMBONDO: UM RARO CASO DE INFECCÇAO POR SCYTALIDIUM SP.

Resumo

INTRODUÇÃO: A ceratite fúngica é uma infecção ocular relevante, acometendo usualmente homens jovens trabalhadores rurais. Geralmente está associada a trauma ocular, uso de corticosteroides ou de lentes de contato. Várias espécies de fungos podem desencadear essa doença, sendo as mais prevalentes Fusarium, Aspergillus e Candida. Entretanto, existem relatos de acometimentos envolvendo agentes e mecanismos extremamente atípicos. Objetiva-se relatar um raro caso de ceratite micótica por Scytalidium sp. após ferroada de marimbondo. RELATO DE CASO: Homem, 58 anos, admitido na urgência de um serviço oftalmológico de referência com queixa de baixa visual, prurido e vermelhidão em olho direito (OD) há 17 dias iniciado após picada de marimbondo. Apresentava histórico de uso tópico de moxifloxacino e sistêmico de prednisona e cetoconazol por 7 dias sem melhora até então. Negava comorbidades e antecedentes oftalmológicos. Ao exame, acuidade visual corrigida (AVCC) em OD 20/30. Achados biomicroscópicos em OD: hiperemia conjuntival 3+/4+, infiltrado corneano inferior de bordas hifadas com hipópio de 1 mm e reação de câmara anterior 4+/4+, demais estruturas preservadas. Olho esquerdo sem alterações. Optado pela suspensão de tratamento prévio por 24 horas e coleta de cultura do raspado de córnea a qual foi positiva para o fungo Scytalidium sp. Paciente evoluiu com melhora clínica após uso tópico de Pimaricina associada ao Vigamox. No momento, encontra-se em acompanhamento ambulatorial com mais de 30 dias de tratamento sem sinais de recidiva e boa reabilitação visual. DISCUSSÃO: A suspeição e diagnóstico de ceratite micótica envolve uma série de elementos. É fundamental uma análise minuciosa das características clínicas e investigações microbiológicas visando-se a definição assertiva do agente infecciosa envolvido e, consequentemente, estabelecimento do manejo mais adequado. Embora vários compostos antifúngicos tenham sido usados para terapia, a condução desses casos segue sendo desafiadora. A pimaricina tópica, em muitos casos, é um importante agente terapêutico, associada ou não a antifúngicos orais. Ademais, pode ser necessário intervenção cirúrgica. CONCLUSÃO: Apesar de pouco relatado, ferroada de marimbondo pode evoluir com ceratite micótica rara envolvendo fungos incomuns nesse contexto. É de suma importância uma propedêutica adequada associada ao tratamento precoce correto visando-se um melhor prognóstico desses pacientes e desfechos mais favoráveis.

Referências Bibliográficas

1. Brown L, Leck AK, Gichangi M, Burton MJ, Denning DW. The global incidence and diagnosis of fungal keratitis. The Lancet Infectious Diseases [Internet]. 2020 Oct 22;0(0). Available from: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30448-5/fulltext
2. Vajpayee R, Maharana P, Sharma N, Nagpal R, Jhanji V, Das S. Recent advances in diagnosis and management of Mycotic Keratitis. Indian Journal of Ophthalmology. 2016;64(5):346. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4966371/
3. Thomas PA, Kaliamurthy J. Mycotic keratitis: epidemiology, diagnosis and management. Clinical Microbiology and Infection. 2013 Mar;19(3):210–20. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1198743X14601269
4. Farjo QA, Farjo RS, Farjo AA. Scytalidium Keratitis. Cornea. 2006 Dec;25(10):1231–3. Available from: https://journals.lww.com/corneajrnl/Abstract/2006/12000/Scytalidium_Keratitis__Case_Report_in_a_Human_Eye.21.aspx