Dados do Trabalho
Título
Escondido detrás da íris: desafio diagnóstico de um melanoma de corpo ciliar
Resumo
INTRODUÇÃO: Os melanomas oculares correspondem a 5% dos melanomas e 85%, têm origem no trato uveal. Desses, cerca de 6% acometem o corpo ciliar. A etiologia não é clara, sem evidências de que radiação solar aumenta sua incidência. Pode causar metástase via hematogênica até 15 anos após o diagnóstico. RELATO DE CASO: Homem, 61 anos, com baixa acuidade visual (BAV) em olho direito (OD) há um ano. Nega história prévia oftalmológica. Possui apenas hipertensão arterial. Ao exame, acuidade visual de 20/50 e 20/30. À biomicroscopia de OD, presença de lesão retrolental cupuliforme pigmentada, de corpo ciliar, das 12 às 3h. Vaso sentinela em sua porção nasal. À fundoscopia de OD, presença de celularidade vítrea e de abaulamento de retina nasal superior. Olho esquerdo sem alterações. Ultrassonografia ocular do OD evidenciou ecos puntiformes em cavidade vítrea e presença de elevação retiniana com conteúdo hiperreflectivo e de aspecto homogêneo a nível de coróide próximo ao corpo ciliar. No modo A, presença de ângulo kappa. A hipótese diagnóstica foi melanoma de corpo ciliar. O paciente foi encaminhado para rastreamento oncológico e enucleação. DISCUSSÃO: Dentre os tumores malignos intraoculares, o melanoma uveal é o mais comum nos adultos. O paciente se enquadra no perfil mais comumente acometido, sendo homem e da raça branca. O diagnóstico é feito pela anamnese, exame oftalmológico e exames complementares, principalmente a ecografia ocular. A biópsia só é indicada quando os outros métodos são inconclusivos. O paciente podendo ser assintomático ou apresentar BAV. À biomicroscopia, pode-se encontrar vasos sentinelas (vasos episclerais dilatados), anteriorização do diafragma iriano e alterações cristalinianas. A lesão, inicialmente um nódulo elevado, pode romper a membrana de Bruch e apresentar-se como um cogumelo. No modo A da ultrassonografia, o achado típico é a presença do ângulo kappa, um alto pico inicial com refletividade interna com amplitude descrescente média/baixa. O tratamento pode ser fotocoagulação, radioterapia ou enucleação, atingindo controle local em mais de 90% dos casos, embora cerca de 40% desenvolvam metástases, principalmente hepáticas. CONCLUSÃO: Como outras doenças malignas, o tratamento precoce proporciona melhor prognóstico visual e sobrevida. Entretanto, o caso descrito demonstra como lesões retrolentais tendem a ter diagnóstico tardio pela posição do tumor, já que, atrás da íris, só são visualizados quando maiores.
Referências Bibliográficas
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Área
RETINA (Trabalhos)
Instituições
Instituto de Olhos Ciências Médicas - Minas Gerais - Brasil
Autores
ANA LUISA SOUTO GANDRA, FERNANDO NASCIMENTO DE ARAUJO, FÁBIO BORGES NOGUEIRA